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O Sindicato tem condições que muitos clubes não têm

O Sindicato tem condições que muitos clubes não têm

2021-06-28

Ex-avançado Dionísio participou em três edições do Estágio do Jogador.

Dionísio esteve no Estágio do Jogador por três vezes. Mesmo que já tivesse uma perspetiva de contrato no horizonte, escolheu não abdicar do treino proporcionado pelo Sindicato e chegar aos clubes na melhor forma possível. Aliás, já de botas penduras e trocadas pela bata de um laboratório, o ex-jogador compareceu na última edição do Estágio, em 2020, para poder treinar com os restantes participantes.

Não tem dúvida de que os clubes deviam prestar mais atenção aos jogadores do Estágio e tem a certeza de que todos os que saem do Estágio do Jogador chegam mais preparados aos clubes. Entre treinos, jogos, formação e um staff à medida, a iniciativa do Sindicato é, para Dionísio, uma oportunidade que não se deve deixar passar.

Estiveste no Estágio do Jogador em três edições. O que te motivou a inscreveres-te?
Acima de tudo, preparar-me para fazer uma época o melhor possível. Eu sempre, mas sempre, vi o Sindicato e o Estágio como uma oportunidade e sempre disse isso aos meus colegas. O Sindicato oferece aquilo que muitos clubes não têm. Mesmo tendo perspetivas [de ter um cube], quis participar nesta iniciativa, porque gostava de chegar ao clube numa boa condição física, algo que o Sindicato também proporcionava. Sendo um associado do Sindicato, de uma maneira ou de outra, sentia que o tinha que valorizar também. Para mim foi um privilégio ser sócio e poder desfrutar das condições do Estágio.

Podemos, então, afirmar que te sentiste sempre mais preparado para começar uma nova época desportiva?
Sem dúvida, até porque, se formos ver, o Sindicato fazia dois ou três jogos por semana, o que num clube normal não fazias. Eu dizia aos meus colegas que o Estágio depende das perspetivas de cada um, sabes? Pessoalmente, preferia estar a fazer três jogos por semana, porque a preparação e condição física ganhas com os jogos, não com os treinos.  Ganhas mais se estiveres exposto à competição e estiveres a desafiar um oponente.

Acabaste por depois sair para o estrangeiro e terminaste a carreira na Tunísia, onde já tinhas estado antes. Sentes que foi uma boa maneira de te despedires dos relvados?
Despedir… É assim, a despedida dos relvados, para quem gosta, nunca é fácil. Ainda hoje continuo a treinar. Considero que sou um privilegiado, sabes? Pude fazer aquilo de que mais gosto e ser pago para isso. Mas voltando ao treino do Sindicato e ao facto de ter ido jogar para o estrangeiro… Eu fazia sempre aquilo. Estive no Estágio por três anos seguidos, ou seja, quando estava de férias, vinha para Portugal e ia treinar com o Sindicato porque não queria parar. Assim, aproveitava. Sou, ainda, um privilegiado porque joguei 20 anos sem uma única lesão, daquelas grandes que os jogadores por vezes têm. Isso também tem a ver com a minha disciplina e com os cuidados que tinha. Daí ir sempre para Portugal nas minhas férias treinar para o Estágio. Quando chegava ao clube, os outros ainda se estavam a arrastar e eu já estava a voar! [risos]

Hoje és técnico dentário. Como se deu essa transição?
Quando vim da Guiné tinha o 11.º ano feito e em Portugal fiz o 12.º, em dois anos. Em dois anos porque era atleta profissional e então não tinha tempo para ir às aulas normalmente. Fui fazendo aulas antes e depois dos treinos, durante dois anos, até concluir o secundário. Aliás, a minha mãe, a única coisa que nos pedia, a mim e aos meus irmãos, era para não deixarmos de estudar, então assim que tive oportunidade aproveitei. Quando vim para Inglaterra, tinha um clube para onde ia jogar, mas pesei os prós e contras e disse “olha, Dionísio, estás no país ideal, que te oferece oportunidades e só tens é de as agarrar”. Foi isso que fiz. Comecei a trabalhar no laboratório onde estou hoje, estive cá três anos e depois, quando senti que o meu inglês já era aceitável, concorri à universidade através do laboratório e tirei o curso. Hoje vou já com quase oito anos de experiência.

Voltando ao Estágio: que conselho darias a jogadores jovens que ainda estão na dúvida entre participar ou não no Estágio deste ano?
Aos jogadores costumo dizer para verem o Sindicato como uma oportunidade, mas que é preciso muita dedicação, esforço, muito compromisso e disciplina. É preciso isto tudo. Acordares todos os dias, ires para o Estágio e não dares tudo, então não vale a pena, não estás lá a fazer nada. E mais, eu vou até aos clubes. Acho que os clubes deviam trabalhar muito com o Sindicato e agradecer-lhe por tudo. O trabalho que o Sindicato faz, não é só pelos jogadores, mas pelos clubes. Isto porque faz com que os jogadores cheguem aos clubes já com uma excelente condição física. Penso, também, que deveria de haver algum incentivo pelos jogadores que saem dos treinos do Sindicato, honestamente. O Sindicato tem todo este trabalho, tem um staff de excelência, tem tido durante todos estes anos. Fui a três torneios que foram excecionais, condições incríveis, tudo o que nós ali fazíamos… Acho que esse trabalho não é devidamente reconhecido. Os clubes têm de mudar a mentalidade de olhar para o jogador que vai para o Sindicato como “menos valia”. Eu nunca pensei assim. Estive no Estágio e fui um jogador que sempre escolheu o clube adequado, que me oferecia as condições que achava justas, tendo em conta as minhas qualidades na altura. Não era só porque aparecia um clube que tinha logo de assinar, nunca fiz isso. Isto para dar, também, valor ao Sindicato. Quem está no Estágio, não está lá porque não é bom e não presta, nada disso. Até porque, como já disse, o Sindicato tem condições que muitos clubes não têm. Se estiveres no Estágio do início ao fim, sais de lá com alguns 15 jogos. Começares a época com 15 jogos na pré-temporada é muito bom e é preciso. Ainda este ano, fui de férias para Portugal, saí para ir correr e acabei a treinar lá no Estágio dois ou três dias! [risos] Há muito valor e muito potencial no Estágio.