Notícias

“Olho para trás e percebo a importância que o Estágio teve para mim”

“Olho para trás e percebo a importância que o Estágio teve para mim”

2021-06-23

Em 2008, Filipe Cândido treinou com a equipa do Sindicato antes de assinar pelo Lourosa.

Filipe Cândido esteve no Estágio do Jogador por três vezes e acredita que todas elas foram fundamentais nos diversos momentos da sua carreira. Em 2013 pendurou as botas e abraçou um novo projeto: o de treinador.

A paixão pelo treino que o acompanhou desde miúdo, motivou-o a prosseguir os estudos, licenciar-se, terminar o mestrado e tirar o curso de treinador. Está neste momento a concluir o quarto nível, mas a carreira de treinador começou quando ainda era jogador. Dos jovens do Sousense, onde jogava na altura, até ao convite para se tornar no treinador da equipa principal, o caminho traçou-se naturalmente.

Hoje, com olhos de treinador, aconselha todos os jogadores a associarem-se ao Sindicato e a participarem no Estágio do Jogador – uma iniciativa que, para Filipe Cândido, se revelou muito importante.

Participaste no Estágio do Jogador depois de duas épocas fora de Portugal. Esse fator teve influência na tua inscrição?
Sim. Naquela altura, tinha vindo da Grécia, do Kavala, e a maneira como saí do clube não foi de todo fácil. Não foi uma saída muito normal, foi por falta de pagamentos, de ordenados e quando se está no estrangeiro muitas vezes perdemos a visibilidade que temos quando jogamos em Portugal. O Sindicato, neste caso, foi muito importante em duas vertentes. Por um lado, o Estágio ajudou-me a manter a forma física, visto que estava sem clube e, por outro, a visibilidade que dava, por realizarmos jogos contra equipas que já estavam em competição, equipas de primeira e segunda ligas. Na altura isso dava, pelo menos, para mostrar o nosso potencial, para as pessoas verem que estávamos bem fisicamente, podíamos mostrar a nossa qualidade e possivelmente encontrar um clube com interesse. É curioso que eu participei no Estágio por três vezes e foi sempre depois de lá estar que arranjei colocação, clube e facilitou-me sempre muito a entrada nas equipas onde estive, porque não estava parado.

Quais foram as principais vantagens que encontraste no Estágio?
Eu dava por mim muitas vezes a ir treinar sozinho. Fazia corridas no parque, na rua, às vezes marcava uma ou outra futebolada com os amigos, mas não é a mesma coisa nem todos os dias. Para mantermos a nossa forma física bem, temos de treinar praticamente todos os dias. Isso era muito difícil. Dava por mim, muitas vezes, a ir para o Parque da Cidade, no Porto, e volta e meia, voltava para trás. Ia de carro [risos], chegava a uma parte do caminho e pensava “fogo, vou treinar sozinho…” e voltava para trás. É uma situação difícil e ao fim de algum tempo começas a perder o ânimo. No Estágio, temos esse entusiasmo. Criamos laços com alguns colegas que estão lá, na mesma situação que nós, temos equipas técnicas muito competentes – na altura apanhei o Pedro Martins, o Nandinho… - alguns treinadores que estavam a dar os primeiros passos na altura, e que para eles penso que também foi muito importante. Para nós, a nível psicológico é mesmo muito importante, porque é uma fase em que os jogadores se podem sentir um pouco menos integrado e desapontado com o que está a acontecer: tarda em encontrar clube, tarda em arranjar colocação e com o Estágio acaba por se distrair. Não tenho dúvidas nenhumas disto e já o dizia enquanto estava no Estágio. Hoje olho para trás e tenho ainda mais certezas disto. Às vezes podia ser o entusiasmo de lá estar ou assim, agora não. Olho para trás e percebo a importância que o Estágio teve para mim naquela altura.

Quando deixaste de jogar, passaste a treinar o clube onde terminaste, precisamente, a carreira. Foi uma transição que se deu naturalmente ou já tinhas pensado nessa possibilidade?
É uma pergunta que se calhar até merecia uma resposta grande, mas vou tentar ser breve [risos]. Quando era mais novo, mais pequeno, até mesmo ainda na formação do Sporting, sempre tive uma grande paixão pelo treino. Pelo jogo também, obviamente, mas pelos estudos, pelo treino…. De alguma forma, conforme fui crescendo na modalidade, mesmo enquanto jogador profissional, essa paixão cresceu ainda mais, queria ter maior conhecimento do treino. A certa altura entrei na Faculdade de Desporto, da Universidade do Porto, com 19 anos, era jogador profissional de futebol, jogava na Primeira Liga, no Salgueiros, mas como tinha esse desejo e esse gosto fui na mesma. A partir daí o meu gosto pelo treino foi aumentando. Comecei também a tirar o curso de treinador muito cedo, com 24 anos já tinha o segundo nível. A melhor coisa que fiz na vida foi jogar futebol, mas tive sempre dentro de mim este bichinho do treino. Mais tarde, quando vim da Grécia e estava no Sindicato, como os clubes que foram aparecendo eram todos próximos da faculdade, acabei por terminar a licenciatura e o mestrado. Entretanto quando estava no Sousense, no Campeonato de Portugal, comecei a desenvolver lá um trabalho na área da formação, era treinador dos jovens do clube. Comecei por treinar as equipas de sub-8 e sub-10, as pessoas reconheceram-me alguma competência e, apesar de eu ainda estar a jogar, fizeram-me o convite, e bem, para treinar. A partir daí foi um processo natural. Falei com um professor da faculdade, o Vítor Frade, aconselhei-me e ele deu-me força e coragem – porque é preciso ter coragem para terminar a carreira – e as coisas foram correndo. Até agora sinto que tenho evoluído, estou a terminar o nível IV do curso de treinador. Tinha para mim que só ia tirar o nível três e quatro à medida que fosse percebendo que podia ir avançando na carreira e é o que tenho feito. Vou sendo melhor todos os dias, sabendo que esta é uma profissão difícil, mas muito entusiasmante.

Agora, vendo as coisas da perspetiva de um treinador, aconselhavas algum jogador a participar no Estágio?
Sim. Eu tive uma ligação muito longa com o Sindicato, talvez desde os meus 17 ou 18 anos, sempre fui um associado e por isso tenho um maior conhecimento das pessoas que lá estão e fui fazendo amizades dentro do próprio Sindicato. Posto isto, tenho duas questões. Uma é que eu acho que todos os jogadores deveriam de ser sócios, porque só dessa forma é que se pode aumentar as possibilidades de quem está à frente do Sindicato poder defender os interesses dos jogadores. O jogador é, na minha opinião, a peça mais importante do jogo. Mais do que os treinadores e os dirigentes, porque quem joga são os jogadores. Portanto, este Sindicato faz todo o sentido e é então um conselho que eu dou. Até porque, ainda que não seja isso que nós queiramos, muitas vezes passamos por situações difíceis, e, por exemplo, quando precisei, liguei para o Sindicato e resolveram sempre os meus problemas da melhor forma. É um apoio que o jogador tem. Depois a outra questão, tem a ver com este apoio de que estou a falar, que é a possibilidade de participar no Estágio do Jogador. Mais do que ficar em casa a deprimir ou com sentimentos negativos, é recorrer ao Sindicato que nos dá esta possibilidade. Não tenho dúvida nenhuma de que [o Estágio] permite aos jogadores manterem a melhor forma física e manter a sua atividade habitual. O poder sair de casa, com um foco e objetivo de manter a forma, de estar integrado como se estivéssemos numa equipa… Tudo isso acaba por nos favorecer no nosso dia a dia, num momento complicado para o jogador – aquele em que já não devias de estar de férias, mas sim a treinar e ainda não tens equipa. Isso é, para mim, fundamental e decisivo. Portanto, sou um dos que dá força a esta iniciativa do Sindicato dos Jogadores, porque acredito que faz todo o sentido.