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“Foi uma das coisas mais importantes que me aconteceram na vida”

“Foi uma das coisas mais importantes que me aconteceram na vida”

2021-06-22

Em 2006, Hugo Morais participou no Estágio do Jogador e mudou o rumo da sua carreira.

Hugo Morais pensou em desistir do futebol, depois de uma época negativa no Barreirense. Terminou o 12.º ano e até se preparou para fazer as provas de ingresso ao ensino superior. O Estágio do Jogador trocou-lhe as ideias. Em 2006, resolveu participar e recebeu uma chamada do mister Vítor Oliveira.

Depois do convite do mister para assinar pelo Leixões, Hugo Morais recusou-se a abandonar o Estágio do Jogador a meio e só aceitou a proposta depois de um torneio internacional realizado pelo Sindicato nos Países Baixos.

A época no Leixões acabou por ser ouro sobre azul, com a subida do clube ao primeiro escalão, 18 anos depois, e com o antigo médio a ser uma das peças chaves da equipa.

Hugo Morais afirma que o Estágio do Jogador foi uma das experiências mais gratificantes que teve e que foi uma das coisas mais importantes que lhe aconteceram na vida.

Antes de decidires inscrever-te, em 2006, já tinhas ouvido falar do Estágio do Jogador?
Sim, já tinha. Na altura em que decidi inscrever-me tinha acabado o meu contrato. Eu era jogador do Estrela da Amadora, que na altura estava na primeira divisão, e tinha sido emprestado ao Barreirense. Como as coisas não correram muito bem no Barreirense, comecei a pensar em terminar o 12.º ano. Terminei, à noite, e até pensei em fazer as provas de acesso à faculdade. A situação no Barreiro não me estava a correr muito bem, tive alguns convites para continuar na Segunda Liga, mas não eram muito atrativos. Cheguei a pensar em deixar o futebol e seguir a carreira académica, mas depois houve alguém do Sindicato que veio falar comigo. Na altura, os treinadores [do Estágio] eram o Emílio Peixe e o José Carlos e, como eu tinha uma boa relação com eles e conhecia bem o Dr. Evangelista, eles falaram comigo, para ir aos treinos. Houve um colega meu do Barreirense, o Baltazar, que também estava interessado e acabámos por ir os dois. Fomos mais numa de divertimento e percebermos até que ponto aquilo valia a pena ou não. Acabou por ser uma experiência muito interessante e muito gratificante. Lidámos com vários tipos de pessoas, sem clube e à procura de uma oportunidade. Correu muito bem e foi muito bom! Fomos até a um torneio na Holanda, o que foi uma experiência brutal e pronto... A partir daí, houve situações, convites de clubes estrangeiros… Mas tinha o convite do Leixões, do Vítor Oliveira, que me tinha ligado. Aliás, até me ligaram antes desse torneio na Holanda para ir para o clube, mas eu disse que primeiro ia ao torneio e depois logo resolvia a minha situação. Portanto, vê, acabo por arranjar um clube, naquela altura, e descartei a hipótese, de ter logo clube – ainda por cima o Leixões, que ia lutar pela subida, e acabámos por subir – para dar prioridade ao torneio do Sindicato. O ambiente era tão bom em todos os sentidos, até com todo o staff, que decidi ir ao torneio. Quando voltei, lá fui para o Leixões.


Pessoalmente, que vantagens te trouxe a participação no Estágio?
Não só em termos psicológicos, até porque experienciei uma realidade completamente diferente. Para mim era uma coisa nova, sempre tive clube até àquela altura. Não é vergonha nenhuma não ter clube. Havia muito o estigma, na altura, em 2006, em que quem não tinha clube não gostava de dizer às pessoas, era sinal de que a qualidade não era assim tão boa… Mas pelo contrário! São situações que acontecem no futebol. Por vezes há jogadores com um potencial incrível, que têm o azar de as coisas lhes terem corrido mal no ano anterior, que tiveram o azar de alguém não ter visto um jogo onde as coisas correram bem e daí surgir um convite…. Para mim não foi vergonha nenhuma. Sabia da minha qualidade, do meu passado como jogador e que, mais cedo ou mais tarde, as coisas iam acontecer. Foi uma experiência brutal. Aconselho a várias pessoas, no futuro, a frequentar o Estágio. É uma experiência gratificante.


Na época seguinte, jogaste pelo Leixões e o clube acabou por subir à Primeira Liga. Foi a melhor maneira de regressares ao principal escalão?
Sim, sim. Ainda por cima pelo convite do Vítor Oliveira… Foi uma das pessoas mais importantes da minha carreira, não só como treinador, mas como amigo. Foi uma pessoa que me marcou e o falecimento dele foi um choque para mim e para outros que experienciaram tudo com ele. Mas foi muito gratificante. Não só o Leixões não estava na Primeira Divisão há 18 anos como nesse ano fui um dos jogadores que mais minutos teve. Foi uma experiência que não esqueço. Foi uma das coisas mais importantes que me aconteceram na vida. Não só a ida para o Leixões, como os treinos do Sindicato.


Que conselho dás a jovens que estejam a passar por um período mais complicado da carreira?
Vou ser muito sincero. Acho que agora, comparando com a minha altura, é muito mais fácil ser jogador, o problema é a mentalidade dos jovens hoje em dia. Por vezes dão mais valor às coisas extrafutebol, como as redes sociais, por exemplo. E depois custa-me ver alguns com muita qualidade que não conseguem ter a sua oportunidade. Há muitos jogadores no Campeonato de Portugal, por exemplo, que têm muita qualidade e não têm uma oportunidade em detrimento de outros. Portugal é campeão da Europa; em termos de qualidade, Portugal é um dos melhores países do mundo a formar jogadores; temos os melhores treinadores. Então, porque é que os nossos jovens não têm tantas oportunidades? Quanto ao resto, as distrações extrafutebol, de que eu já falei, são coisas que têm de melhorar. Temos o exemplo máximo do Cristiano Ronaldo, que tem a qualidade que tem, mas se não trabalhasse e não fizesse determinadas escolhas difíceis, não chegava onde chegou. Portanto, digo aos jovens para porem os olhos nele e seguirem o seu exemplo. Têm de dar no duro e trabalhar a parte mental, porque sem isso é difícil chegar ao topo.